Novo centro vai usar dados e inteligência artificial na área da segurança pública

24 de outubro de 2023

André Julião | Agência FAPESP – Os recentes ataques a escolas praticados por alunos evidenciaram mais uma vez a urgência de se prevenir esse tipo de crime. Uma vez que normalmente são planejados e mesmo anunciados em redes sociais, a análise de dados e o uso de ferramentas de inteligência artificial (IA) têm potencial para prevenir essas ocorrências.

Esse será um dos temas abordados pelo Centro de Estudos em Analytics e Políticas de Segurança (FGVAnalytics), um Centro de Ciência para o Desenvolvimento (CCD) da FAPESP sediado na Fundação Getúlio Vargas, estruturado em parceria com a Secretaria de Segurança Pública do Estado de São Paulo (SSP-SP) e a Universidade de São Paulo (USP). 

“A metodologia utilizada é a de acoplamento de problema e solução. O problema será posto a um grupo não só de pesquisadores, como de agentes de segurança pública que vivenciam esses problemas. O objetivo é que daí saiam resultados tecnológicos que ajudem a organizar o fenômeno e a solução”, disse à Agência FAPESP João Luiz Becker, professor da Escola de Administração de Empresas de São Paulo (EAESP) da FGV e coordenador do centro.

“A instalação de um centro de estudos de políticas de segurança é uma excelente notícia tanto para a comunidade acadêmica, para o setor governamental envolvido com a segurança pública e, em última instância, para a população do Estado de São Paulo. Esta iniciativa tem um componente muito especial. Ela mobiliza a comunidade acadêmica e os pesquisadores para se debruçarem sobre os problemas de segurança e buscarem soluções baseadas na ciência e na tecnologia”, explicou Marco Antonio Zago, presidente da FAPESP, durante a cerimônia solene de inauguração do centro realizada ontem (23/10), na FGV.

Para Zago, o FGVAnalytics demonstra como a segurança pública não é uma responsabilidade exclusiva do Estado, mas, sim, de toda a sociedade, incluindo os pesquisadores. Como projeto voltado para políticas públicas, o centro não se encerra na ampliação do conhecimento, mas na solução dos problemas sobre os quais se debruça.

Lançado pela FAPESP em 2020, o programa Centros de Ciência para o Desenvolvimento apoia projetos de pesquisa de impacto social, tecnológico e econômico, com duração de até cinco anos, a serem executados por equipes de institutos de pesquisa, universidades ou instituições de ensino superior no Estado de São Paulo, em parceria com órgãos de governo (leia mais em: agencia.fapesp.br/30851).

Coordenador-geral do Centro Integrado de Comando e Controle (CICC) da Secretaria de Segurança Pública de São Paulo e vice-diretor do FGVAnalytics, João Henrique Martins contou a experiência recente dos chamados “sequestros PIX”, em que pessoas são mantidas em cativeiro para que façam transferências e pagamentos para os criminosos.

Para investigar as ocorrências, era demandada uma coordenação entre os setores de inteligência das polícias e dos bancos, sem que deixasse de ser respeitada a chamada cadeia de custódia, em que o ônus da veracidade das provas digitais cabe ao Estado.

“Se à época já tivéssemos o centro em pleno andamento e um pesquisador que tivesse uma solução protegendo a cadeia de custódia e dando fluxo de informação rápido, uma solução poderia sair dali. E é o que pretendemos fazer aqui, elegendo alguns temas, e se houver algo em termos científicos sendo realizado, ele é incorporado à solução. Atualmente, não existe nada nesse sentido, de trazer a metodologia científica para a atividade operacional pragmática e é esse o desafio que estamos construindo”, explicou Martins.

Ataques em escolas

Sobre os ataques às escolas, Martins explicou à Agência FAPESP que há pelo menos dois pontos que precisam ser levados em conta. Primeiro, a identificação precoce de possíveis agressores ativos, tanto para prevenção quanto para municiar as investigações no futuro, caso o evento já tenha ocorrido. Outro é a identificação dos chamados replicadores, pessoas que, após o ataque, criam uma percepção de pânico com notícias falsas sobre supostos novos ataques.

“Temos um desafio grande, porque estamos falando do meio digital em seus vários canais. Então precisamos de um trabalho de avaliação da comunicação que é feita nas redes sociais que dê indícios de que um atirador ativo está prestes a se formar, seja porque propaga esses conteúdos, seja porque é vítima de bullying, e identificar elementos de radicalização”, comentou.

“A universidade pode tratar isso como hipótese de pesquisa, mergulhar no tema, e trazer o que se tem na fronteira do conhecimento sobre o que é possível operacionalizar”, completou.

O evento foi mediado por Goret Pereira Paulo, diretora da rede de pesquisa da FGV, e teve ainda s presença do promotor de justiça Fabio Bechara e dos pesquisadores do centro Eduardo Francisco, Leandro Piquet, Roberto Speicys e Ciro Biderman.

A sessão solene contou com a presença do chefe de gabinete da Secretaria de Segurança Pública, Paulo Maculevicius, representando o secretário Guilherme Derrite; do diretor da EASP-FGV, Luiz Artur Ledur Brito, e do diretor do Instituto de Relações Internacionais da USP, Pedro Abreu Dallari.

Foto: Piti Reali/EASP-FGV