USP apresenta sete novos centros de estudos ligados diretamente à reitoria
18 de abril de 2024
Julia Moióli | Agência FAPESP – Em cerimônia realizada no dia 8 de abril, a Universidade de São Paulo (USP) oficializou a criação de sete novos Centros de Estudos cuja missão é desenvolver investigação fundamental ou aplicada focada em temas específicos de forma multidisciplinar. Entre eles estão o Centro de Pesquisa de Carbono em Agricultura Tropical (CCARBON) e o Centro de Pesquisa para Inovação em Gases de Efeito Estufa (RCGI) – respectivamente, um Centro de Pesquisa, Inovação e Difusão (CEPID) da FAPESP e um Centro de Pesquisa em Engenharia (CPE) constituído pela Fundação em parceria com a Shell. Agora ligados diretamente à reitoria, passam a apresentar a mesma estrutura e ganham agilidade e autonomia para a realização de estudos e a estruturação de convênios e acordos.
“Com esse modelo, será possível realizar pesquisa de qualidade, que traga grandes contribuições, de maneira ágil”, afirmou Carlos Gilberto Carlotti Junior, reitor da USP, durante o evento. “Acredito que, nos próximos meses e anos, grandes pesquisas e colaborações surgirão a partir desses centros, que servirão de modelo também para outras universidades do Brasil, permitindo pesquisa, ensino e extensão muito mais ligados às necessidades da sociedade e às grandes prioridades nacionais e internacionais.”
Com a missão de concentrar atividades de ensino, pesquisa e extensão de forma interinstitucional dentro da universidade, reunindo profissionais de alta competência, os Centros de Estudos da Amazônia Sustentável (Ceas), Carbono em Agricultura Tropical (CCARBON), Agricultura Tropical Sustentável (Stac), Gases de Efeito Estufa (RCGI), Tecnologias Convergentes para Oncologia de Precisão (C2PO), Inteligência Artificial e Aprendizado de Máquina (CeIAAM) e Observatório das Instituições Brasileiras (COI) se dedicam aos temas mais relevantes da atualidade.
A atuação de todos os grupos está relacionada à Agenda 2030 estabelecida pela Organização das Nações Unidas (ONU), que compreende 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável.
Apoio da FAPESP
Presente na cerimônia, Marco Antonio Zago, presidente da FAPESP, destacou sua satisfação em observar que alguns desses centros tiveram sua origem dentro da Fundação. De acordo com ele, isso revela o potencial da instituição não apenas como fonte de financiamento para a ciência paulista, mas também como “celeiro de grandes projetos e de articulações entre a universidade e a sociedade”.
“O mundo mudou muito e o desafio das universidades é buscar soluções fundamentadas no conhecimento científico para melhorar a sociedade e as políticas públicas”, afirmou Zago. “Não com os olhos no passado, mas com base em novos movimentos – e uma das estratégias da USP para compreender as áreas da missão é justamente organizar seu valioso capital humano na forma de centros interdisciplinares com focos específicos, muito bem definidos. Todos tratam de temáticas altamente relevantes no contexto global e nacional."
Segundo Zago, todos os centros poderão contar com recursos da FAPESP para executar suas missões.
O evento teve ainda a presença de autoridades como Arnaldo Hossepian Salles Lima Junior, diretor-presidente da Fundação Faculdade de Medicina da USP; Carlos André Bulhões Mendes, reitor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS); Cristina Balestrin, assessora de gabinete da Secretaria de Estado da Saúde, representando Eleuses Vieira de Paiva, secretário da Saúde; Guilherme Campos, superintendente federal em São Paulo do Ministério de Agricultura, Pecuária e Abastecimento; José Sebastião dos Santos, coordenador dos Centros de Estudos da USP; Júlio César Dalla Mora Esquerdo, chefe de pesquisa da Embrapa Agricultura Digital; Luiz Fernando Lima Reis, diretor de pesquisa do Hospital Sírio-Libanês, representando Denise Alves da Silva Jafet, diretora da instituição; Maria Arminda do Nascimento Arruda, vice-reitora da USP; Marisa Maia de Barros, subsecretária de Energia e Mineração da Secretaria de Meio Ambiente, Infraestrutura e Logística do Governo do Estado de São Paulo; Rosana Emília Gaspar, presidente do Conselho Estadual de Segurança Alimentar e Nutricional Sustentável (Consea); Stanley Robson de Medeiros Oliveira, chefe-geral da Embrapa Agricultura Digital; e Wieneke Vullings, cônsul-geral dos Países Baixos.
Pesquisas e perspectivas
Durante a cerimônia, os coordenadores dos Centros de Estudos da USP apresentaram missão, projetos e perspectivas de seus grupos. Veja a seguir mais detalhes sobre as linhas de trabalho de cada um.
Centro de Estudos da Amazônia Sustentável (Ceas)
Em colaboração com outras universidades de São Paulo e instituições de pesquisas da região amazônica, o Ceas visa desenvolver estratégias sustentáveis para a Amazônia, região que desempenha papel fundamental na estabilidade climática regional e local, além de abrigar comunidades indígenas que dela dependem.
“Queremos promover a produção, integração e disseminação da ciência por meio de abordagens inter e transdisciplinares, relacionadas a ensino, pesquisa e cultura e extensão para o desenvolvimento sustentável da região, levando em conta sua biodiversidade, complexidade de processos físicos, químicos e biológicos e diversidade étnica e populacional, assim como as questões socioeconômicas”, explicou Paulo Eduardo Artaxo Netto, professor do Instituto de Física (IF-USP) e coordenador do Ceas.
Centro de Pesquisa de Carbono em Agricultura Tropical (CCARBON)
O desafio do CCARBON é desenvolver, propor e aplicar técnicas, práticas e soluções inovadoras de agricultura, pecuária e silvicultura que não só reduzam as emissões de gases de efeito estufa como também os removam por meio do sequestro de carbono, contribuindo para a mitigação dos riscos climáticos.
“Nosso foco são os biomas do Brasil, mas temos a convicção de que o país tem um papel central e pode impactar o panorama de forma mais global”, afirmou Carlos Eduardo Pellegrino Cerri, professor da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq-USP) e coordenador do CCarbon.
Centro de Estudos Agricultura Tropical Sustentável (Stac)
“Nossa missão é articular soluções estratégicas e inovadoras para promover a agricultura tropical sustentável com foco no bem-estar da sociedade e na saúde do meio ambiente e os valores ética, profissionalismo, transparência, excelência e rigor científico”, relatou Durval Dourado Neto, professor da Esalq-USP, sobre o Stac.
Neto apresentou algumas das linhas de pesquisa de seu grupo, entre elas a domesticação da macaúba (Acrocomia aculeata); o Selo Verde Brasil, em associação com a Secretaria de Economia Verde, Descarbonização e Bioindústria (SEV) do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC); agricultura irrigada e segurança alimentar, em colaboração com o Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa); conectividade rural, com o Mapa e o Ministério das Comunicações (MCom); e a recuperação de paisagens degradadas com a ONU.
Centro de Pesquisa para Inovação em Gases de Efeito Estufa (RCGI)
“Temos o foco de desenvolver novas tecnologias que visam ao combate das mudanças climáticas, possibilitando a mitigação de emissões de gases de efeito estufa”, descreveu Julio Romano Meneghini, professor da Escola Politécnica (Poli-USP) e coordenador do RCGI.
Exemplos são tecnologias de captura, estocagem e utilização de carbono, de produção de hidrogênio a partir de etanol e de geração de energia a partir de fontes biológicas.
De acordo com o professor, o RCGI também busca ajudar o Brasil a cumprir as Nationally Determined Contributions (NDCs), contribuições determinadas nacionalmente para atacar as mudanças climáticas.
Centro de Estudos e Tecnologias Convergentes para Oncologia de Precisão (C2PO)
Frente ao desafio de tratar o câncer, doença que representará o maior problema de saúde pública global até a metade deste século de acordo com a Agência Internacional de Pesquisa sobre o Câncer (Iarc), o C2PO propõe reunir a comunidade da USP para uma agenda de ações focadas no diagnóstico e tratamento mais precisos.
“A missão do nosso centro é articular projetos de pesquisa que atendam às necessidades que vemos no dia a dia do hospital e impactar a forma como diagnosticamos e tratamos o câncer”, contou Roger Chammas, professor da Faculdade de Medicina (FM-USP) em entrevista à Agência FAPESP.
Os projetos do grupo envolvem marcadores preditivos de resposta, genômica do câncer, terapias avançadas com nanotecnologia e inteligência artificial.
Centro de Estudos em Inteligência Artificial e Aprendizado de Máquina (CeIAAM)
Apoiar atividades de ensino, pesquisa, inovação, cultura e extensão relacionadas a todos os aspectos da área de inteligência artificial e aprendizado de máquinas, ofertando plataformas e recursos compartilhados, transferindo conhecimento e tecnologia, disseminando informações e formando profissionais, é a missão do CeIAAM.
“Entre nossas linhas de pesquisa estão processamento de língua portuguesa, línguas indígenas, previsão de dados oceânicos e auxílio diagnóstico em saúde”, explicou Fabio Gagliardi Cozman, pesquisador do Inova USP e coordenador do CeIAAM, à Agência FAPESP. “Também atuamos com divulgação científica, debate e mesas-redondas.”
“A área envolve a aplicação dessa tecnologia em todos os aspectos e como a sociedade pode melhor recebê-la e processá-la, daí a atenção que tem despertado.”
Centro de Estudos Observatório das Instituições Brasileiras (COI)
O principal objetivo do COI, criado como uma iniciativa liderada pelos professores Ricardo Lewandowski, ministro da Justiça e Segurança Pública, e Maria Arminda do Nascimento Arruda, é analisar o aperfeiçoamento e o desenvolvimento das instituições brasileiras em meio às grandes transformações das últimas décadas, como o avanço da internet, o aprofundamento das desigualdades e a luta por maior equilíbrio social e econômico.
“Pensado como um espaço de reflexão, análise e diálogo entre universidade e sociedade, o COI tem caráter prospectivo, crítico e propositivo e investe no desenvolvimento de pesquisas interdisciplinares para pensar caminhos e discutir soluções para o aperfeiçoamento da vida política, econômica e social”, afirmou Arruda durante o evento.
Para isso, conta com diversos grupos de trabalho com enfoques específicos, como de gênero, sustentabilidade, economia, democracia e saúde.
Um primeiro estudo do centro dimensiona a desigualdade de gênero na USP e na ciência brasileira a partir de um panorama de distribuição de homens e mulheres dentro da universidade nos últimos 20 anos, fornecendo subsídios para a formulação de políticas voltadas à equidade.