Chamadas de Propostas

Edital Cidades Inteligentes-Cidades Sustentáveis - Anexo 1

SELEÇÃO PÚBLICA FAPESP E MCTI/FINEP/FNDCT – PROPOSTAS PARA INOVAÇÃO - PAPPE-PIPE 3 2016

LISTA DE DESAFIOS TECNOLÓGICOS

CIDADES SUSTENTÁVEIS – CIDADES INTELIGENTES

1. Introdução

Sustentabilidade é a prática do consumo equilibrado com o objetivo de que os recursos consumidos não faltem no futuro, e de forma que os meios naturais de produção desses recursos não sejam degradados pela ação humana. Além do aspecto ambiental, que envolve a manutenção do meio ambiente e de soluções de produção a partir de recursos renováveis, a sustentabilidade está ligada a aspectos sociais, tais como os direitos humanos, de respeito às diferenças e de desenvolvimento das gerações futuras. Também está relacionada com questões econômicas, uma vez que a introdução de mudanças, sejam elas ambientais, urbanísticas, sociais ou tecnológicas, produzem impactos de longo prazo na organização das relações de consumo e na distribuição de renda.

As tecnologias da informação, cada vez mais presentes no cotidiano das pessoas, têm sido o principal recurso que viabiliza o compartilhamento de informações em grande escala. Com as facilidades da mobilidade digital e das aplicações de colaboração em rede, a sociedade tem passado por transformações que, sobretudo, mudam a forma como as pessoas se relacionam com outros indivíduos, compram bens e serviços, recebem ou transmitem informações, tomam decisões e interagem com a cidade no entorno, incluindo o meio ambiente, estimulando novas formas de pensar e de viver. Nesse contexto, o comportamento digital em rede pode ser um forte aliado em prol da sustentabilidade.

Ao melhorar a eficiência da interação dos indivíduos com a cidade, é possível reduzir o desperdício e o consumo de recursos não renováveis e, ao mesmo tempo, gerar oportunidades para recriar os espaços urbanos de forma que sejam voltados ao convívio humano, com facilidades que aumentem a qualidade de vida.

De forma mais abrangente, o desafio consiste em desenvolver metodologias, processos e recursos tecnológicos convergentes com a sustentabilidade, para o desenvolvimento de Ambientes Sustentáveis Inteligentes.

1.1. Cidades Inteligentes

Uma cidade é um sistema composto de uma infinidade de sistemas, e que por sua vez criam diversas formas de interações que favorecem o desenvolvimento humano. 

Em cada domínio da cidade, pessoas, instituições públicas e privadas demandam e requerem necessidades específicas e que podem ser disponibilizadas e facilitadas por meio de recursos digitais, como aplicativos para smartphones e dispositivos de infraestrutura que permitam a integração dos demais sistemas urbanos, como transporte público, saúde, educação, cultura e segurança pública, resultando em funcionalidades de valor agregado para o cidadão, sejam elas incrementais ou disruptivas.

Essas e outras soluções tecnológicas devem ser reunidas e integradas para contribuir para a melhoria da qualidade de vida na cidade, no planejamento urbanístico, na preservação do meio ambiente, do consumo sustentável, no controle de desperdício, na saúde, na segurança física e pessoal, e na mobilidade, ou seja, Serviços Públicos de Qualidade.

Tais soluções criam camadas de ambientes sustentáveis inteligentes que abrangem os diversos domínios da cidade, produzindo o que é conceituado como sendo “Cidade Inteligente”. Um local de convívio e interação humana, que é potencializado pela conectividade e serviços digitais online, interagindo com pessoas e coisas, resultando em melhor qualidade de vida, uma vez que serviços públicos e até mesmo privados, são fornecidos de forma mais eficiente, rápida, assertiva e acessível.

A Cidade Inteligente é uma construção evolutiva, um processo que envolve a constante busca de resolver problemas através de soluções disruptivas com visão futurista, fazendo-se uso de materiais integrados com sensores, dispositivos eletrônicos e redes de comunicação, os quais são ligados com sistemas computadorizados, para análise de dados a partir de algoritmos inteligentes que tomam decisões.

O desenvolvimento desses recursos requer simbiose entre diversas disciplinas do conhecimento, o que inclui a física, matemática, química, biologia, medicina e as áreas da saúde, ciências da computação, mecânica, eletrônica, engenharia civil e ciências sociais. Todos esses conhecimentos quando agregados e aplicados à resolução dos problemas das cidades, conseguem transformar uma sociedade.

1.2 No Brasil

Mais de metade da população mundial vive em cidades e estima-se, que até o ano de 2020 mais de cinco bilhões de pessoas estarão concentradas nas áreas urbanas. Hoje, somente na China, há mais de duzentas cidades com mais de um milhão de habitantes, além disso, o aumento da renda em países desenvolvidos e em desenvolvimento acelerará ainda mais os processos de adensamentos urbanos.

No Brasil o cenário não é diferente, a análise dos dados sobre a urbanização, apresentados no último Censo do IBGE, mostra que a quantidade de indivíduos e famílias residindo em áreas urbanas tem apresentado crescimento exponencial. Estes indivíduos e famílias buscam nas cidades melhores oportunidades de trabalho, crescimento econômico e acesso aos serviços públicos.

O crescimento da urbanização traz ao poder público inúmeros desafios relacionados principalmente ao fornecimento de serviços essenciais, como energia, transporte público, saúde, água, educação, entre outros, de forma adequada à demanda gerada por este aumento da população urbana e pela complexidade dos sistemas sociais urbanos.

A área de abrangência que é necessária para sustentar uma cidade média e grande, vão muito além de suas fronteiras, assim como os impactos de seu funcionamento no meio ambiente, na economia, transporte, segurança, saúde, educação, e no desenvolvimento científico e tecnológico. Logo, ao desenvolver recursos que melhorem a eficiência das cidades, e mais especificamente, que melhorem a qualidade de vida dos cidadãos (entre outros habitantes), todo o entorno também se beneficia.

Evoluir e oferecer à população uma cidade sustentável, mais inteligente, mais integrada, mais inovadora, pressupõe uma visão holística e sistêmica do espaço urbano e a integração efetiva dos vários atores e setores urbanos. Para tal, são necessários investimentos em inovação tecnológica e também inovação na gestão, no planejamento, no modelo de governança e no desenvolvimento de políticas públicas. É também de suma importância diagnosticar as vocações produtivas das cidades para o melhor aproveitamento de suas capacidades, permitindo assim seu desenvolvimento sustentável e racional, tanto do ponto de vista econômico quanto ambiental e, sobretudo, humano.

Diversos são os desafios para que as cidades inteligentes e sustentáveis sejam uma realidade e muitos estudos têm sido realizados, na forma de projetos pilotos ou provas de conceito, buscando avaliar as várias tecnologias disponíveis, os resultados e a efetividade de sua aplicação. A integração e planejamento conjunto de todos os atores envolvidos (setor público, privado, sociedade e instituições de pesquisa) tem se mostrado um diferencial importante para que estes projetos sejam bem sucedidos permitindo à sociedade usufruir dos benefícios esperados, garantindo um crescimento sustentável e uma oferta cada vez mais otimizada dos serviços públicos nos grandes centros urbanos criando assim uma cultura efetiva de Cidades Inteligentes.

Neste contexto as empresas da área de base tecnológica tornam-se fundamentais para que as Cidades Inteligentes se viabilizem e possam oferecer aos cidadãos os mais diversos dispositivos tecnológicos nas mais diferentes áreas (mobilidade, energética, telecomunicações, serviços públicos e tecnológicos). Fomentar o desenvolvimento destas empresas e estabelecer um modelo de trabalho que permita a elas implantar, avaliar e aprimorar seus produtos e serviços, alinhando-os com as mais exigentes expectativas dos cidadãos, apresenta-se como fator essencial à criação e desenvolvimento de uma cultura focada nos conceitos de Cidades Inteligentes.

Startups, pequenas e médias empresas oferecem, muitas vezes, soluções inovadoras e até revolucionárias para atender demandas de cidades inteligentes, porém, carecem de recursos que permitam dar a estas soluções, na maioria das vezes desenvolvida até o nível de protótipo, viabilidade técnica para escalá-las ao nível de produção industrial, garantindo qualidade, atendimento a requisitos operacionais, de desempenho e a normas legais. Este aspecto frequentemente impede que soluções verdadeiramente inovadoras sejam aplicadas em projetos de cidades inteligentes.

Aglutinar essas soluções oferecidas pelas Startups, e a partir delas criar territórios que promovam o conhecimento e a inovação, e combinem a cooperação e a inteligência coletiva na produção de aplicações de software e dispositivos eletrônicos adaptados para gerar soluções inteligentes, interativas e que resolva os problemas do cotidiano dos cidadãos e das administrações públicas municipais, é uma forma inovadora que permite trazer facilidades antes impossíveis de serem implementadas. 

Em face deste cenário, com objetivo de viabilizar a aplicação de soluções desenvolvidas por pequenas empresas, serão apoiados projetos que tenham por objetivo romper barreiras técnicas de modo a permitir que as soluções inovadoras cheguem ao mercado e sejam efetivamente aplicadas em projetos de cidades inteligentes. Para isso serão apoiados projetos que atendam aos desafios tecnológicos nas seguintes áreas temáticas:

2. Áreas temáticas

1. Meio ambiente sustentável

O meio ambiente representa tudo o que há em nosso entorno, ele é a soma de todas as condições e agentes que afetam o desenvolvimento e a vida de todos os organismos da Terra.

De forma abrangente, o meio ambiente é formado pela Biosfera, que são as coisas vivas: fauna e flora; e também formado por coisas “não vivas”: Atmosfera (ar), Hidrosfera (água) e Litosfera (terra). Esses grupos possuem mutua dependência entre si, cujas interações ocorrem de forma dinâmica e sazonal, influenciando a constituição das civilizações do planeta em toda sua história.

O ciclo hidrológico, por exemplo, é responsável pela distribuição de água entre ar, terra, mar, plantas e animais, e que acontece através da evaporação massiva de água de mares e oceanos até a condensação dos vapores das nuvens que produzem as chuvas. Assim, a biosfera terrestre consegue obter seu suprimento de água doce. Quando a captação e o consumo de água ocorrem de forma desequilibrada com a capacidade de reposição pelo ciclo hidrológico, resulta na redução da capacidade dos reservatórios e aquíferos, e na escassez de água para os consumidores.

A Litosfera, formada pelo manto terrestre, rochas e solo, está em constante mudança devido ações naturais como vento, chuva, reações químicas e biológicas, mas também sofrem impactos devido a ação humana, na ocupação dos territórios, pela agricultura intensiva e mineração. O desmatamento e a erosão do solo provocam a desertificação, o desaparecimento de afluentes, o empobrecimento do solo, e o desparecimento e extinção de diversas espécies, incluindo plantas medicinais. O extrativismo de combustíveis fósseis (petróleo, gás, carvão.) e de outros minerais (ferro, cobre, ouro) cujos produtos são largamente usados nos domicílios, nos processos industriais e nos meios de transporte, produzem um grande impacto ao meio ambiente.

Vários poluentes de origem natural e sintética são lançados no ar diariamente, provocando distúrbios no equilíbrio atmosférico. A poluição do ar tem sido apontada como a principal responsável por muitos problemas nas grandes cidades, como o aumento das doenças respiratórias em adultos e crianças, danos ao patrimônio histórico e cultural e da biodiversidade causada pela acidez das chuvas. A poluição potencializa o fenômeno conhecido como “ilhas de calor” nos centros urbanos, provocando a elevação da temperatura e mudanças climáticas que resultam na elevação do nível de água dos oceanos, ocorrências tempestades, tufões e maremotos com mais frequência e intensidade e a extinção de espécies animais.

As nações em desenvolvimento, dentre as quais se insere o Brasil, enfrentam atualmente uma situação crítica, que é a de manter o desenvolvimento econômico e ao mesmo tempo conter, senão mitigar, os impactos nocivos ao meio ambiente.

Nesse contexto, serão apoiados projetos de produtos ou serviços que apresentem soluções inovadoras para:

  • Estabilização populacional;

  • Planejamento integrado para uso da terra;

  • Conservação da biodiversidade;

  • Controle da poluição do ar e da água;

  • Controle da distribuição e armazenamento de água e combate ao desperdício;

  • Eficiência do consumo e de distribuição de energia;

  • Produção de energia com recursos renováveis;

  • Coleta, compactação, transporte, reciclagem, reaproveitamento e tratamento de resíduos industriais e residenciais; e

  • Educação e aconselhamento ambiental em todos os níveis.

2. Mobilidade urbana

O aumento da população nas cidades, a distância entre pontos de deslocamento de pessoas e cargas, e a geografia são fatores que que impactam na mobilidade urbana, ocasionando aumento no tempo de viagem, poluição sonora e visual, e emissão de poluentes e resíduos diversos, como os gases dos motores e as partículas de borrachas dos pneus que são lançados na atmosfera diariamente.

Esses impactos são cada vez mais acelerados com o aumento da quantidade de veículos automotores, gerando também efeitos na obtenção de energia e na segurança urbana, além do meio ambiente.

Nem sempre o planejamento urbano acompanha o ritmo de crescimento das cidades, o que eleva os custos de transporte, provoca as dificuldades na mobilidade, além da necessidade de maiores investimentos em infraestrutura para atender o aumento da demanda por transporte individual.

Fatores como infraestrutura precária, passeios públicos inadequados ou inexistentes, iluminação insuficiente, ocupação ilegal do solo, entre outros, dificultam a circulação de pedestres e de veículos, provocando congestionamentos, insegurança e desconforto, principalmente às pessoas que possuem alguma condição física restritiva.

Outro fator importante para a mobilidade e sustentabilidade nas cidades é a arborização urbana. Pedestres geralmente procuram por espaços com paisagem mais atrativa, pois eles proporcionam sensação de conforto e consequentemente melhora a qualidade de vida nos centros urbanos.

Sob a perspectiva da sustentabilidade, a melhoria da mobilidade urbana compreende todas as condições possíveis que facilitem o deslocamento de pessoas e cargas, prevendo a mitigação dos impactos negativos no ambiente e a melhoria da qualidade de vida dos habitantes das cidades.

Nesse contexto, o desenvolvimento de soluções para a mobilidade urbana deve ter como base o conceito de desenvolvimento sustentável em que se busca conciliar as questões ambientais, econômicas, sociais e de proteção a vida, mas também, que busquem otimizar a utilização dos vários meios de transportes disponíveis nas cidades, sejam eles públicos ou privados, incluindo as possíveis integrações entre os sistemas, combinando as respostas mais adaptadas a cada problema.

Serão apoiados projetos de produtos ou serviços inovadores focados nos seguintes assuntos:

  • Sistemas de transporte limpos e eficientes.

  • Redução do tráfego e facilitação do trânsito de veículos e pedestres nos centros urbanos.

  • Possibilitar que pessoas com alguma deficiência tenham facilidade e autonomia no deslocamento urbano.

  • Incentivar os deslocamentos de curta distância.

  • Incentivar o uso do transporte público.

  • Redução da emissão de gases e detritos poluentes gerados por veículos automotores.

  • Redução do consumo de energia de veículos automotores.

  • Redução do consumo de energia dos equipamentos de trânsito.

  • Controle de estacionamentos e auxílio na busca por vagas.

  • Redução dos custos de infraestruturas urbanas.

  • Monitoramento, planejamento, logística e controle do trafego urbano.

  • Gestão da demanda dos transportes públicos em tempo real, de acordo com o congestionamento das áreas urbanas.

  • Planejamento do uso do solo, com o objetivo de aproximar ou facilitar o acesso e a mobilidade urbana às áreas centrais, cidades satélites ou ao longo dos sistemas de transporte público.

  • Meios digitais para potencializar o cidadão na sua mobilidade por meio de transportes coletivos, públicos, compartilhados e/ou outros meios de transporte eficientes do ponto de vista da sustentabilidade; e

  • Educação no trânsito em vários níveis.

3. Tecnologias Assistivas

Tecnologia Assistiva é uma variedade de itens e recursos que auxilia o indivíduo com deficiências, tais como softwares especiais, adaptações, rampas de acesso, barras de auxílio, dispositivos eletrônicos, dentre outros. [LAUAND 2015] [1]

Tecnologia Assistiva é o termo que representa o uso de recursos e serviços que proporcionam ou ampliam as habilidades funcionais de pessoas com deficiência e que, consequentemente, promovem qualidade de vida independente e inclusão social. Assim, pode-se descrever que os recursos de Tecnologia Assistiva são instrumentos, produtos, equipamentos ou sistemas desenvolvidos para prevenir, atenuar, compensar ou neutralizar as limitações e dificuldades impostas pelas deficiências, sejam elas motoras, visuais, auditivas, mentais ou múltiplas.

As Tecnologias Assistivas têm sido impulsionadas, principalmente, pelo novo paradigma da inclusão social, que tem o desafio de incluir pessoas com deficiência em diversos ambientes da sociedade, de forma que elas possam conviver e interagir com o ambiente com a máxima autonomia e interdependência possível.

De acordo com o Censo Demográfico de 2010, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e a Secretaria Nacional dos Direitos das Pessoas com Deficiência (SNDP) contabilizaram 12,8 milhões de brasileiros como portadores de algum tipo de deficiência severa. Além das pessoas que declararam possuir grande dificuldade ou total incapacidade de ver, ouvir ou se locomover, mesmo com o uso de aparelhos.

Para o Estado de São Paulo foram apontadas 9,3 milhões de pessoas que declararam ter pelo menos uma das deficiências investigadas, correspondendo a 22,6% da população paulista. Dessas pessoas, 9 milhões se encontravam em áreas urbanas, dentre as quais, 7 milhões possuem deficiência visual, 1,8 milhões possuem deficiência auditiva, 2,5 milhões possuem deficiências motoras e 480 mil pessoas possuem deficiência intelectual.

Para a maioria dessas pessoas, as Tecnologias Assistivas são essenciais para a mobilidade, atividades relacionadas à aprendizagem, trabalho, comunicação e interação com o mundo, e a falta delas geram a extrema exclusão social, do acesso à cultura, educação, lazer e à dignidade humana.

Os recursos de Tecnologia Assistiva, devem possuir características que atendam as várias necessidades das pessoas com deficiências, que sejam de uso simples e intuitivo, que aumentem a percepção e a cognição do usuário e proporcione comunicação eficaz necessária para que possa tomar decisões. Devem possuir design que exijam o mínimo esforço físico e proporcionar o máximo conforto. Deve minimizar o erro e o risco de consequências adversas, que podem ser provocadas por ações involuntárias ou imprevistas, e possuir dimensões apropriadas ou adaptáveis para a interação de acordo com perfil da pessoa.

Além de adaptar as pessoas com deficiências, é necessário adaptar a sociedade às necessidades das pessoas com deficiência, para que no seu cotidiano todos possam compartilhar espaços com igualdade, respeito e aceitação às diferenças.

Nesse contexto, serão apoiadas soluções inovadoras em Tecnologias Assistivas, que contribuam para proporcionar, melhorar e ampliar a independência, a qualidade de vida e a inclusão social das pessoas com deficiência, com incapacidades ou mobilidade reduzida, tais como:

  • Órteses e próteses inteligentes

  • Dispositivos e sistemas que auxiliem na mobilidade pessoal

  • Dispositivos que melhorem o tratamento clínico individual

  • Dispositivos que auxiliem no treino de capacidades

  • Dispositivos que proporcionem melhoria nos cuidados pessoais e na proteção das pessoas com deficiência

  • Recursos que proporcionem adaptação de ambientes, tornando-os mais inteligentes e acessíveis às pessoas com deficiências (habitação, equipamentos públicos).

  • Recursos que auxiliem na comunicação, informação e sinalização, no manejo de produtos, mercadorias, ferramentas e máquinas.

  • Soluções que viabilizem a recreação, a educação e o acesso à cultura e ao conhecimento às pessoas com deficiências.

4. Segurança Pública

É importante que as cidades se tornem cada vez mais sustentáveis, resilientes, ecologicamente corretas, adaptadas a todos seus cidadãos, porém, é fundamental que as cidades tenham condições de garantir a Segurança Pública e proporcionar um ambiente onde as pessoas possam conviver, produzir, se desenvolver e se divertir, protegidas dos riscos aos quais possam estar expostas.

Segurança Pública, conforme definido por Moreira Neto [2], é o Conjunto de processos políticos e jurídicos destinados a garantir a ordem pública na convivência dos homens em sociedade

A Constituição Federal de 1988, no seu art. 144, define expressamente a segurança pública como sendo de dever do Estado, direito e responsabilidade de todos, exercida para a preservação da ordem pública e da incolumidade das pessoas e do patrimônio, através dos seguintes órgãos: polícia federal, polícia rodoviária federal, polícia ferroviária federal, polícias civis e militares e corpos de bombeiros militares [..]. No que se refere às Guardas Municipais, a Constituição reconhece e faculta sua criação pelos municípios, cuja finalidade principal é a de proteger o patrimônio e os serviços públicos.

O conceito de segurança pública é abrangente e de difícil descrição, pois não está limitado ao combate da criminalidade, nem se restringe à atividade policial, mas se estende por várias outras funções do Estado, que visam garantir a ordem e estabilidade, a liberdade, o bem-estar, a justiça social e o pleno exercício da cidadania em uma sociedade democrática. De forma resumida, o dever do governo é proteger os seus cidadãos.

Por um lado as forças de segurança pública, das várias esferas de governo, precisam estar preparadas de forma que possam responder rapidamente às emergências usando recursos que lhes confiram inteligência no combate das ameaças, mas também é necessário criar meios para se chegar até a causa raiz dos problemas sociais que geram riscos à segurança, como o crescimento acelerado da população nos centros urbanos, a má distribuição demográfica, ocupações, aglomerados e favelas, o abandono de menores, a violência urbana, a miséria e sua exploração política, a proliferação das drogas, a natalidade irresponsável, carência educacional e assistencial, infraestrutura sanitária inapropriada e o desemprego dos mais jovens.

Outros fatores sociais estão relacionados às condições ambientais e urbanísticas e que tem sido alvo de vários estudos, que geraram experiências de projetos de segurança e políticas públicas importantes na década de '90. Esses estudos mostraram que ambientes degradados e marcados pela desordem, podem exercer influência sobre os crimes que ocorrem nesses ambientes. (KELLING; COLES, 1996)[3]. Por exemplo, bairros onde a desordem é muito alta, como terrenos baldios, mato alto, mendicância, lixo jogado nas ruas e pichações, as chances de ocorrer alto índices de violência é maior do que em bairros onde a desordem é baixa. O mesmo ocorre com escolas e domicílios, onde quanto maior a degradação desses ambientes, maior a ocorrência de violência contra os indivíduos que os ocupam. 

Neste contexto, serão apoiadas as soluções inovadoras voltadas para a eficiência no provimento da segurança pública ao cidadão, tais como:

  • Tecnologias para monitoramento e/ou predição de desastres.

  • Soluções para análise de situação em tempo real, a partir de painéis de acompanhamento e do georreferenciamento das informações, com sobreposição de camadas de dados sociais da população e dimensões temporais.

  • Solução que possibilite o cruzamento de dados coletados a partir de diversas fontes para composição de cenários, objetivando traçar o perfil do crime de forma regionalizada e fazer correlações e análises para tomada de decisões.

  • Soluções que permitam ao cidadão comunicar situações de risco, violência, crime, entre outros, em tempo real, de forma que reduza o tempo de encaminhamento de ações táticas das forças de segurança pública.

  • Soluções que possibilitem a padronização e integração de dados de sistemas, tais como TO (Talão de Ocorrências) e BO (Boletim de Ocorrências), proporcionando melhoria na qualidade da informação e facilidade no preenchimento e classificação das ocorrências.

  • Soluções que ajudem a identificar a ocorrência de delitos e crimes em locais públicos tais como ruas, praças e transportes públicos.

  • Solução de monitoramento inteligente de áudio e vídeo, integrado com sistema de alertas e emergências a partir da detecção automática de eventos.

  • Tecnologia para identificação de padrões de comportamento associados a delitos, atos ilícitos e crimes para identificação de tendências e alertas às forças táticas.

  • Soluções que reduzam a violência doméstica e urbana.

  • Soluções que possibilitem a redução de tempo das investigações criminais.

  • Soluções que aumentem a capacidade de sensoreamento remoto e o monitoramento de situações, condições atmosféricas e/ou ambientais.

  • Soluções que forneçam proteção ao patrimônio público, identificando e alertando sobre furtos e vandalismos.

  • Soluções que coletem informações em tempo real para monitoramento de dados de redes sociais, de forma que se possa diagnosticar eventos com maior probabilidade de se tornarem incidentes e crimes.

  • Soluções que permitam ao cidadão interagir com os equipamentos e serviços públicos no entorno, para que em caso de urgências ou emergências, possa buscar suporte de forma rápida.

  • Soluções que avisem ao cidadão sobre eventos ao redor, tais como zonas de alagamento e enchentes, quedas de árvores, risco toxicológico, interdições de vias públicas.

  • Soluções que fomentem a educação sobre Segurança em vários níveis.

5. Tecnologias para difusão de educação e cultura

As Cidades Inteligentes são habitadas por Cidadãos Inteligentes. Cidadãos com bons níveis de educação formal, possuem melhor capacidade de se desenvolverem no meio urbano e, igualmente, de colaborar com o desenvolvimento de ambientes mais inteligentes e sustentáveis.

A presença de várias tecnologias que facilitam a troca de informações e provocam a colaboração tem mudado a percepção do comum, abrindo um universo de outras realidades e possibilidades. Essa mudança de comportamento tem produzido impactos em várias áreas, dentre elas, as mais importantes são a economia, a cultura e a educação.

Na gestão escolar a informática tem trazido melhorias, principalmente no que se refere a redução da burocracia, como a distribuição de vagas, substituições de docentes, o controle da alimentação escolar, e na elaboração de textos e avaliações dos alunos. Talvez por isso, a secretaria da escola seja onde mais frequentemente encontramos o computador. Enquanto isso, embora computadores estejam presentes em salas de informática, o desafio ainda tem sido como usar o computador e outras tecnologias digitais para melhorar o processo de aprendizagem dos alunos.

Portanto, não é bastante ensinar alunos a usarem um computador, é necessário construir e aplicar métodos, processos e recursos tecnológicos que sejam atrativos e que ampliem a capacidade dos alunos na apropriação dos saberes e habilidades.

A construção de uma cidade mais inteligente e sustentável requer a preparação de alunos para um novo modelo de pensamento, com espaços que estimulem a colaboração que lhes permitam se desenvolver e ao mesmo tempo transformar a cidade.

Neste contexto, serão apoiados projetos de soluções inovadoras focadas na melhoria do processo de ensino e aprendizagem, de valorização da paisagem urbana e do patrimônio cultural da cidade, tais como:

  • Ferramentas inovadoras de análise e sistemas de gerenciamento de aprendizagem e de conteúdo.

  • Ferramentas que permitam o acesso de conteúdo e a colaboração entre alunos e professores.

  • Educação a distância com recursos multimídia eficientes mesmo com pouca velocidade de conexão

  • Soluções que aumentem a capacidade aprendizagem do aluno e que ampliem o acesso a conteúdos educacionais.

  • Soluções que ajudem a disseminar a pluralidade cultural e étnica.

  • Controle de presença e frequência automatizados.

  • Dispositivos e recursos tecnológicos que aumentem a segurança do translado de alunos.

  • Soluções que ampliem a capacidade dos gestores escolares na análise de informações sobre desempenho, frequência, distribuição de vagas, entre outros, possibilitando efetuar correlações em diversas dimensões.

  • Soluções que possibilitem o acesso aos conteúdos das bibliotecas, de forma presencial ou remota.

  • Soluções que auxiliem na formação continuada de professores.

  • Aplicativos que ajudem a valorizar a paisagem urbana e o patrimônio cultural da cidade.

  • Aplicativos que possam tornar a experiência dos alunos em sala de aula mais interativa e instigante.

  • Aplicativos que estimulem o hábito pelo saber e pela cultura.

6. Saúde

As cidades sempre foram um território onde ocorreram as maiores intervenções humanas, com alta capacidade mercantil e econômica que alavancaram o desenvolvimento tecnológico e do pensamento humano em vários sentidos. De outro lado, o aglomeramento, as condições de vida precárias, o ritmo da produção industrial, a insalubridade do trabalho e quase nenhum recurso de saneamento adequado geravam transtornos, como epidemias de doenças, pânico, revoltas e a segregação social.

A saúde pública, passou a ser prioridade das civilizações desenvolvidas, principalmente das cidades modernas, impulsionadas pela industrialização, pois as boas condições de saneamento tornavam essas cidades mais atraentes aos investidores e consequentemente eram mais prósperas.

Desde então, os investimentos e inovações tecnológicas para as áreas da saúde tem trazido enormes avanços e melhorias à qualidade de vida. Da descoberta dos antibióticos, das vacinas, marca-passos, dos dispositivos que permitem a circulação sanguínea externa, dispositivos de hemodiálise, a fecundação artificial, sintetização de hormônios e vitaminas e os recursos modernos de diagnóstico, que permitem precisão e identificação precoce de doenças, dando maior segurança ao médico, além dos benefícios aos pacientes.

Na atualidade, o crescimento da população e a ocupação do espaço urbano traz novos desafios às cidades. Principalmente no que diz respeito à saúde pública, devido ao seu caráter de urgência e a dificuldade no acesso às especialidades médicas por uma parcela considerável da população, composta por um maior número de indivíduos idosos. Esses são fatores que alertam para a necessidade de mudanças de paradigmas na forma como o atendimento à saúde é prestado, pois estão ligados ao aumento da infraestrutura.

Além disso, as cidades devem estar cada vez mais preparadas para prevenir e combater a proliferação de doenças endêmicas (dengue, malária, gripe, por exemplo), derivadas dos estilos de vida insalubres ou resultantes da interação predatória do homem no meio ambiente, e que mais recentemente tem provocado graves consequências à saúde e que são difíceis de conter.

As cidades precisam ter a capacidade de coletar e interpretar informações, para implementar políticas públicas voltadas à melhoria da saúde, que sejam capazes de responder às novas necessidades das populações, de forma rápida e resolutiva.

A convergência de tecnologias de comunicação, dispositivos móveis e a computação ubíqua (ou onipresente) trouxe um universo de facilidades que nos permite repensar o formato de atendimento à saúde pública, de forma que ela possa ser mais rápida e descentralizada, proporcionando a mudança do cenário do atendimento para os domicílios, centros assistenciais, escolas e assim promover a saúde às comunidades de uma forma mais eficaz.

Como exemplo, a assistência domiciliar à saúde, que tem sido considerada a principal responsável pela redução internações hospitalares, poderia ser facilitada e ter seus resultados potencializados com o uso de dispositivos que permitissem o monitoramento das condições dos pacientes e consultas com médicos especialistas à distância.

O monitoramento poderia ser feito por dispositivos weareables (o que quer dizer “vestíveis” em tradução literal) usados junto ao corpo para monitorar as atividades fisiológicas do paciente, tais com batimento cardíaco, pressão sanguínea, nível de glicose, stress, contagem de passos, entre outros eventos. O monitoramento permite que os médicos, enfermeiros e cuidadores acompanhem os pacientes mais frequentemente e tomar decisões mais rápidas e assertivas, ao identificar, por exemplo, que um paciente está em situação de risco.

Além de proporcionar saúde e bem-estar aos pacientes individualmente, os dados gerados de várias pessoas ajudam a entender os impactos de certas condições ou doenças nas populações, possibilitando o desenvolvimento de estudos e ações de prevenção, controle e mitigação de proliferação das doenças de forma direcionada aos grupos de maior risco, levando em conta os aspectos sociais e geográficos.

Neste contexto, serão apoiados projetos de produtos e serviços inovadores focados na eficiência do atendimento aos pacientes e usuários do sistema de saúde e também na gestão dos recursos da área de saúde do município, tais como:

  • Dispositivos embarcados que possibilitem o controle e a rastreabilidade de medicamentos entregues aos pacientes em hospitais e unidades de saúde.

  • Dispositivos que possam ser embarcados nos medicamentos, de forma comestível, com objetivo de monitorar o uso do medicamento, ou ainda, efetuar coleta de dados para diagnósticos médicos.

  • Dispositivos weareables, acopláveis ao copo ou em peças de vestuário, de forma que possibilitem o monitoramento do paciente, através de sensoriamento fisiológico, tais como: frequência cardíaca, pressão sanguínea, níveis de glicose.

  • Dispositivos e sistemas inteligentes que possibilitem o monitoramento remoto e intensivo de múltiplos pacientes ao mesmo tempo, através da coleta de dados a partir de vários tipos de sensores fisiológicos.

  • Dispositivos que permitam, de forma inteligente, o monitoramento de pessoas e emissão alertas em caso de situações de risco, como: queda, levantar da cama, tomar medicamento, alerta ao paciente sobre o momento para tomar medicamento, alerta sobre alguma condição que possa trazer prejuízos físicos.

  • Dispositivos e softwares que auxiliem na busca e acesso de profissionais de saúde: médicos especialistas, dentistas, enfermeiros entre outros profissionais que possam complementar o atendimento à saúde. A busca por profissionais online que possam dedicar atenção para uma situação de risco, ou ainda para congregar profissionais de múltiplas disciplinas em saúde para atendimento presencial.

  • Softwares inteligentes para detecção de patologias a partir de análise sintomatológica.

  • Soluções que aumentem a capacidade de controle e fiscalização da vigilância sanitária.

  • Soluções que possibilitem o atendimento médico remoto aos pacientes, que permita a interatividade e a colaboração entre especialistas da área da saúde.

  • Soluções que favoreçam ao paciente de doenças crônicas, como portadores de necessidades especiais, capacidade de autocuidados.

  • Soluções que potencialize o cidadão na busca por unidades de saúde, emergências, especialistas e serviços de saúde.

  • Soluções que promovam a educação sobre higiene, saúde, saneamento e segurança alimentar.

     

[1] LAUAND, G. B. A. Fontes de informação sobre tecnologia assistiva para favorecer a inclusão escolar de alunos com deficiências físicas e múltiplas. 2005. 224 f. Tese (Doutorado em Educação Especial) Universidade Federal de São Carlos, São Carlos, 2005

[2] Moreira Neto, Diogo de Figueiredo. Revisão Doutrinária dos Conceitos de Ordem Pública e Segurança Pública: Uma análise sistêmica. http://www2.senado.leg.br/bdsf/bitstream/handle/id/181828/000435281.pdf. Acesso em Novembro de 2015.

[3] COLES, Catherine ; KELLING, George. Fixing Broken Windows: Restoring Order and Reducing Crime in Our Communities. Nova York: Free Press, 1996.

Página atualizada em 29/02/2016 - Publicada em 24/02/2016